Há três anos caem as receitas geradas pelos ingressos no valor integral, de acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine). A meia-entrada, por sua vez, representou quase 80% dos bilhetes vendidos no Brasil em 2019. De olho nesses dados, o órgão regulador abriu uma consultoria pública sobre a obrigatoriedade legal do benefício e os impactos causados por ele no mercado. Até o dia 13 de agosto haverá espaço para discussões em torno do tema, porém o Ministério da Economia já tomou sua posição: defende a extinção de todas as regras que respaldam o preço de menor custo ao cliente.
As informações do Sistema de Controle de Bilheteria (SBC) são as bases para toda a análise. O grupo da meia-entrada é dividido em três categorias: legais (permitidas por lei), promocionais (que envolve parcerias com empresas) e cortesias (bilhetes gratuitos).
A Ancine identificou, baseada nas informações fornecidas pelas redes de cinema do País, que os ingressos inteiros passaram a representar 21,6% no último ano. Eles eram cerca de 30% em 2017.
“O Brasil tem há muitos anos essa prática de criar distorções, em que se oferece um preço diferente para um certo grupo, e o que acontece é que o custo tem que ser coberto e o preço cheio acaba ficando muito maior. Se todo mundo paga meia, a meia vira a entrada cheia”, comentou, em entrevista ao jornal “O Estado de S. Paulo“, o ex-secretário de Política Econômica e presidente do Insper, Marcos Lisboa.
Já o secretário de Defesa do Consumidor e diretor do Procon-SP, Fernando Capez, discorda da ideia de acabar com o benefício.
“Isso é retirar um direito consolidado do consumidor. Não há nenhuma garantia de que isso vai resultar em ingressos mais baratos”, opina Capaz.
Não há, por parte da Ancine, na consulta pública, um posicionamento relacionado à solução para a questão. Contudo, o órgão propõe três possibilidades: a manutenção da política atual, a restrição do alcance da meia-entrada e a eliminação do benefício.
Atualmente, três leis federais garantem a existência dos bilhetes mais baratos, além de algumas que foram editadas por estados e municípios. Estudantes, jovens de baixa renda, pessoas com deficiência e adultos com mais de 60 anos são atendidos pelo modelo utilizado.