Parlamentares do PCdoB repudiaram o caso da menina de dez anos que engravidou depois de ter sido violentada por, supostamente, seu próprio tio (33). O homem foi indiciado, mas está foragido. Perpétua Almeida, Alice Portugal e Jandira Feghali se manifestaram pelas redes sociais. Já na frente do hospital onde a vítima é tratada, ativistas antiaborto realizaram um ato no qual chamaram de “assassinos” os médicos que atendiam a criança. O feto foi expelido nesta segunda-feira (17), depois da indução iniciada na noite do dia anterior, no Recife, pela equipe do Cisam (Centro Integrado de Saúde Amaury de Medeiros), ligado à UPE (Universidade de Pernambuco). A menina, que é do Espírito Santo, teve atendimento negado em Vitória, precisando, então, viajar para Pernambuco. O procedimento foi autorizado pela justiça.
“(…) era para ser abraçada e receber amor, tudo que garante o Estatuto da Criança e Adolescente, mas desde os 6 anos era abusada pelo tio que a engravidou. É muito forte tudo isso”, lamentou a líder do PCdoB na Câmara, Perpétua Almeida (AC), após citar um relato do juiz que cuidou do caso. O magistrado afirmou que: “Só de tocar no assunto, a menina entra em profundo sofrimento, grita e chora… Reafirma não querer dar prosseguimento à gestação”.
“Sempre que eu ia nas escolas fazer as palestras, tinha uma criança que depois procurava a professora ou diretora para pedir ajuda. Graças a Deus, fiz alguma coisa para ajudar. E depois da pandemia, se Deus quiser, vamos retomar nosso trabalho nas escolas com a cartilha de combate à pedofilia”, completou Perpétua.
A deputada Alice Portugal (PCdoB-BA) destacou a resistência do grupo de mulheres que foi ao hospital em defesa da menina e da equipe médica: “Compaixão e legalidade! Nossa solidariedade à criança de 10 anos. Quem cometeu o crime foi o estuprador, que encontra-se foragido. A menina é vítima”, frisou.
Alice também criticou a atitude dos ativistas que tentaram interromper o procedimento. A deputada reforçou que foi a menina quem sofreu o crime.
“Um monstro comete estupro contra uma criança de 10 anos. A equipe de saúde nega-se a cumprir a lei e um juiz decide pela interrupção da gravidez. A família sai do ES e fundamentalistas vão ao hospital tentar impedir o procedimento. E se fosse sua filha, fanáticos do inferno?”, questionou.
A negativa dos profissionais da unidade médica do estado em que reside a criança também foi salientada por Jandira Feghali (PCdoB-RJ). A relatora da Lei Maria da Penha elogiou a atitude do governo local.
“Diante da trágica história, nos comovemos em ver o apoio que a criança recebeu nas redes e, principalmente, da Justiça e do Estado do Espírito Santo. O governo do Espirito Santo conduziu corretamente, estruturou equipe de acompanhamento, mas lamentavelmente, houve recusa da equipe médica no hospital referenciado. A transferência para outro estado foi necessária para cumprir a lei e o direito dessa criança”, comentou Jandira que se mostrou perplexa com a postura do grupo antiaborto diante deste caso.
“Bolsonaristas e fundamentalistas que não conseguem ter generosidade nem respeito à Constituição, às leis e ao drama da criança e de sua família tentam obstruir a justiça e ainda cometem crimes contra o Estatuto da Criança e do Adolescente. Essas pessoas não têm limites e precisam pagar por isso na proporção do que fazem e dos cargos que ocupam”, opinou.
Feghali projeto a sequência da vida da vítima, após o ocorrido. A criança sofreu com os abusos durante quatro anos, de acordo com a Polícia Civil do Espírito Santo.
“Que a infância perdida seja um constante lembrete de que a luta pelo fim da violência contra as meninas e mulheres deve ser de todos e todas. Que ela encontre paz e amparo para vislumbrar o futuro digno e equilibrado que merece. Um futuro onde o machismo e o racismo não tenham lugar e sejam tratados pelo que são: um crime contra a democracia e as liberdades individuais”, enfatizou.