Ao lado de países africanos, o Brasil está entre os líderes no ranking da ONU que mede a desigualdade social pelo mundo. A lista é desfalcada pelos árabes, que não costumam divulgar seus dados. Na realidade vista em solo sul-americano, pode-se constatar, de acordo com os especialistas, que as políticas de distribuição de renda aplicadas neste século não foram suficientes para impedir a continuidade da extrema concentração, que permanece intocável. Em material divulgado com detalhamento de dados, o UOL abordou o tema.
Houve a passagem dos miseráveis para a condição de pobreza. Contudo, mais de 20% da renda nacional estão nas mãos daqueles que representam a parcela de 1%: são os grandes ricos. Nos últimos 100 anos, inclusive, foram vistos picos de 30% no valor que fica com os “poderosos”.
Sem habitação, saúde e trabalho dignos para enfrentar uma catástrofe biológica, a população menos favorecida sofreu com maior intensidade os efeitos da pandemia da Covid-19 em 2020. A crise econômica, que se arrastava há cinco anos no País, desmoronou o cenário já antes adverso.
A desigualdade é um problema com bastante presença no Brasil, mas não se inibe diante de fronteiras. Com a globalização e o fim dos regimes comunistas, a concentração de renda teve sempre índices de elevação nos últimos 40 anos. Também colaboraram para este retrato o impulsionamento das agendas conservadoras nos Estados Unidos e no Reino Unido, entre outros países.
Soluções, ‘naturalidade’ e racismo estrutural
“Uma medida inicial seria acabar com as deduções e os rendimentos isentos no IR. Mas seria preciso uma combinação de políticas para reduzir a desigualdade sem traumas. De qualquer forma, seria algo inédito na história mundial, afinal, processos de nivelamento de renda até agora só se deram em situações extremas como guerras e revoluções”, avaliou o sociólogo Pedro Ferreira de Souza, autor do livro “Uma História da Desigualdade”, em declarações publicadas pelo site UOL.
“O brasileiro faz cara de paisagem em relação à miséria. Favela, que é uma habitação indigna, virou símbolo nacional. As pessoas acham natural que um compatriota viva catando lixo na rua, quando deviam sentir vergonha”, afirmou o economista Mário Theodoro, especialista em políticas públicas e questão racial. Ele aponta que “a sociedade brasileira é viciada em desigualdade”.
“Quando eu vejo liberais econômicos defendendo a renda básica, fico temeroso porque o que eles querem é o desmonte dos serviços públicos para vender para empresas de saúde e educação privadas. É o modelo norte-americano em que tratar uma unha encravada no hospital sai caríssimo. O que era uma política social vira um grande negócio”, considera Theodoro.
Para o cientista político José Murilo de Andrade, “a desigualdade é a escravidão de hoje, o novo câncer que impede a constituição de uma sociedade democrática”. Ele analisou o quadro no livro “Cidadania no Brasil”.
O racismo estrutural também é visto como agente agravador por Theodoro. O economista aponta que, neste caso, uma consequência é o fato de a pobreza ser tratada com naturalidade no Brasil.