Via Vermelho – Em 2020, a China se consolidou como maior parceiro comercial da Argentina, desbancando o Brasil. Os argentinos exportaram, em abril, US$ 509 milhões para o país asiático, principalmente em soja e carne bovina, um aumento de 50,6% em relação ao mesmo período de 2019. Para o Brasil, as vendas somaram US$ 393 milhões, sendo que foram US$ 907 milhões no mesmo mês de 2019.
Os números do Instituto Nacional de Estatística da Argentina (Indec) foram publicados nesta terça-feira pela BBC. Um movimento parecido, mas de menor amplitude, já havia sido detectado em 2019. Em setembro e outubro do ano passado, os argentinos exportaram US$ 74 milhões a mais que o Brasil para os chineses. A diferença foi menor em outubro: US$ 37 milhões.
Na época, os números não chamaram muito a atenção devido à pouca diferença. Agora, além do volume maior, o Brasil acabou sendo ultrapassado por três meses seguidos: abril, maio e junho.
A desaceleração da indústria brasileira devido ao novo coronavírus é uma das razões para a mudança. O setor de automóveis é um dos mais destacados do comércio Brasil-Argentina, respondendo por 40% do total.
À BBC Brasil, especialistas disseram que enquanto Argentina e China consolidam seus laços, a relação do Brasil com o país asiático esfriou. Eles ressaltaram que a aproximação da Argentina com a China vai além do comércio. Alguns exemplos são: um observatório espacial chinês para missões à Lua, instalado na província argentina de Neuquén, na Patagônia, no sul do país, e a produção chinesa de porcos em grande escala na Argentina, para consumo na China.
Um dos motivos para o afastamento de um parceiro comercial histórico pode ser a postura do governo de Jair Bolsonaro e de seus membros em relação aos chineses.
O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, e o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub já ofenderam o país, culpando a China pela pandemia da Covid-19. Weintraub tornou-se alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) para investigar crime de racismo após um post em que ridicularizou a maneira de falar dos chineses.
Com a aproximação do leilão da tecnologia 5G, que ficou para 2021 devido à pandemia, há temor de que Jair Bolsonaro ceda à pressão dos Estados Unidos e impeça a participação da gigante chinesa Huawei, devido ao seu alinhamento ideológico com Donald Trump.
Recorde de exportação de carnes
No mês de julho, a Argentina também bateu recorde de exportações de carne para os Estados Unidos, outro parceiro comercial de peso do Brasil. Segundo matéria do site especializado BeefPoint, a partir de informações do jornal El País, no mês passado 7,15 toneladas de carne bovina foram comercializadas, batendo recorde registrado em junho.
Segundo a consultoria Faxcarne, o volume certificado em 2020 chega a 13.589 toneladas, o equivalente a quase 68% da cota argentina de 20 toneladas. A maior parte dos embarques em julho foi de carnes congeladas (6.137 toneladas), com valor médio de US$ 4.366 por tonelada, enquanto as 1.012 toneladas restantes foram de carnes resfriadas, com média de US$ 5.963.
Vale lembrar que a Argentina realizou isolamento social responsável e conseguiu controlar os casos e mortes pela Covid-19. Isso permite ao país, agora, ter uma situação econômica mais favorável.