Afastado do cargo por seis meses nesta sexta-feira (28), Wilson Witzel (PSC-RJ) disparou declarações contra adversários durante pronunciamento iniciado por volta das 10h30 (de Brasília) no Palácio Laranjeiras. Ele disse ser perseguido pelo governo federal, atacou o ex-secretário Edmar Santos e até se solidarizou com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apontando interferência por interesses de terceiros no impedimento da candidatura do petista às eleições de 2018. Também sobrou para o atual presidente Jair Bolsonaro, a quem ele recordou que “já declarou que quer o Rio de Janeiro”.
“Eu não sou a favor de Lula nem contra Lula, mas o Supremo Tribunal Federal está chegando à conclusão de que, infelizmente. Sergio Moro foi parcial”, destacou, numa referência aos últimos acontecimentos envolvendo o ex-juiz.
“Com essa decisão, evitou-se que o ex-presidente Lula disputasse a presidência da República”, completou.
Neste mês, o STF sugeriu quebra de imparcialidade de Moro e excluiu a delação de Antonio Palocci contra Lula. Posteriormente, a Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal decidiu anular a condenação de um doleiro considerado culpado de envolvimento em um suposto esquema de fraude do antigo Banco do Estado do Paraná (Banestado) na década de 1990. Este último caso também foi julgado por Sergio Moro.
Sobre Bolsonaro, o governador destacou que ele o acusou de perseguir sua família. Afirmou também que, diferentemente do que o presidente imagina, no RJ a Polícia Civil e o Ministério Público são independentes.
“O presidente da República fez acusações contra mim extremamente graves e levianas. Acredita que vou ser candidato a presidente? O Brasil precisa de gente séria, de gente comprometida com um futuro melhor”, enfatizou.
Questionamento sobre existência de provas
Antes de defender o líder do Partido dos Trabalhadores, Witzel iniciou o discurso em que contestou a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) afirmando não haver provas para sua retirada do cargo.
“Mais uma vez, quero manifestar a minha indignação a uma busca e apreensão. E, mais uma vez, é uma busca e decepção. Não encontrou um real, uma joia, simplesmente mais um circo sendo realizado”, disse.
“Você não pode afastar um governador com a suposição de que ele vai fazer algo”, emendou. Wilson Witzel declarou que ele e outros governadores estão “sendo vítimas do uso político”.
“Isso precisa ser investigado: o uso possível, uso político da instituição. O Superior Tribunal de Justiça possui vários subprocuradores. Por que não se faz, como em qualquer outro Ministério Público, a distribuição e não o direcionamento para um determinado procurador: no caso a Dra. Lindora (Maria Araújo, que chefia a Lava Jato na PGR). E a imprensa já noticiou o seu relacionamento próximo com a família Bolsonaro”, argumentou.
Governador acusa ex-secretário
Preso pelas denúncias de corrupção na Saúde, o ex-secretário Edmar Santos, que é delator do governador, também recebeu críticas. Witzel afirmou que ele “enganou a todos”.
“Um tenente-coronel da Polícia Militar, professor da Uerj, ex-diretor do Pedro Ernesto. Esse vagabundo entra na saúde do Rio de Janeiro quando eu avisei que não toleraria corrupção e não tolero corrupção. Tentou ludibriar a todos nós”, disparou.
O governador ainda questionou os motivos que levaram ao seu afastamento. Ele garantiu que não tentou ocultar provas.
“Da última busca e apreensão, até a busca e apreensão de hoje, qual foi o ato que eu pratiquei para impedir as investigações? Eu desafio quem quer que seja a dizer qual foi o ato que eu pratiquei desde o início das investigações até agora para atrapalhar as investigações.”
“Mudei o secretário de Saúde, afastei o secretário de Saúde, exonerei o (subsecretário) Gabriell Neves, determinei o banimento das OSs do nosso estado porque entendi que elas, infelizmente, não atendem o interesse público. Determinei auditoria em todos os contratos e a suspensão do pagamento”, relembrou.
Uma nomeação programada para o fim do ano foi outro ponto levantado pelo governador. Wilson Witzel associou a sua saída temporária do poder a mais este fator.
“Afastamento de 180 dias? Por quê? Em dezembro eu tenho que escolher o novo procurador-geral de Justiça. Isso é um ultraje à democracia. Por que 180 dias, se em dezembro eu tenho que escolher o novo procurador-geral de Justiça? Busca e apreensão na casa do vice-governador (Cláudio Castro – PSC)? Busca e apreensão na casa do presidente da Alerj (André Ceciliano – PT)? Com base em uma delação mentirosa de um homem desesperado, de um bandido que nos enganou a todos”, reforçou.
Afastamento
O Superior Tribunal de Justiça determinou, nesta sexta, a saída, por enquanto temporária, de Wilson Witzel do comando do governo do estado. Uma investigação apura supostos desvios nos contratos emergenciais para o combate ao novo coronavírus. Na operação, foi preso o presidente nacional do PSC, Pastor Everaldo. A PGR pediu a prisão de Witzel, porém o STJ negou.