Via Vermelho – Os líderes mundiais discursaram a uma ONU cada vez mais dividida em sua 75ª Assembleia Geral, embora fortemente hegemonizada pelos EUA, como denunciaram Venezuela e Cuba. A China chegou a falar em “vírus político” de Donald Trump, numa ironia em torno do “vírus da China” repetido pelo americano.
Em seu discurso, o presidente dos Estados Unidos exigiu que a ONU responsabilizasse Pequim por espalhar o vírus da pandemia. Mesmo com o maior número de mortes pela doença, mais de 200 mil, ele defendeu sua gestão da crise sanitária.
Por outro lado, o presidente da China, Xi Jinping, adotou um tom conciliador, enfatizando que os asiáticos não tinham intenção de travar “uma Guerra Fria ou Quente” com nenhum outro país. Ele ponderou que as tentativas de politizar a pandemia deveriam ser rejeitadas.
O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, disse que foi equivocadamente retratado como um vilão ambiental. Num discurso paranoico falou de “uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal”. Ele justificou que a riqueza amazônica explica instituições internacionais com interesses escusos apoiando essa campanha, assim como organizações brasileiras “egoístas e antipatrióticas”, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil. Sua fala é uma resposta à reação internacional ao desmatamento acelerado da Amazônia e à omissão do governo nos incêndios do Pantanal.
O presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, pediu um diálogo “sincero” para resolver a crescente disputa com a Grécia sobre a busca de gás no Mediterrâneo oriental, rejeitando qualquer “assédio” do Ocidente sobre o assunto. Aliados na Otan, turcos e gregos estão envolvidos em uma disputa marítima de perfuração de gás que colocou Ancara contra outros Estados membros da União Europeia.
O emir xeque Tamim bin Hamad Al Thani, do Catar, reiterou seu apelo a um diálogo incondicional e ao levantamento do “bloqueio ilegal” imposto pela Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos (EAU), Bahrein e Egito contra seu país, que tem se desenvolvido apesar disso. Seu discurso também se destacou por lamentar que a comunidade internacional falhe em confrontar Israel por sua ocupação ilegal da terra palestina.
O presidente do Irã, Hassan Rouhani, disse que o próximo líder dos EUA vai aceitar as demandas de Teerã, descartando o compromisso enquanto Trump luta pela reeleição. “Não somos moeda de troca nas eleições e na política interna dos EUA”, disse Rouhani. “Qualquer governo dos EUA após as próximas eleições não terá escolha a não ser se render à resiliência da nação iraniana.”
O presidente da Rússia, Vladimir Putin, pediu um tratado internacional para proibir armas no espaço e ofereceu a vacina contra o coronavírus gratuitamente aos funcionários da ONU.
“A Rússia está pronta para prestar à ONU toda a assistência qualificada necessária. Em particular, estamos oferecendo nossa vacina, gratuitamente, para a vacinação voluntária do pessoal da ONU”, declarou Putin, que também disse que a crise econômica global causada pela pandemia torna necessária a remoção de sanções comerciais.
O presidente da França, Emmanuel Macron, afirmou que a Europa não se comprometerá com os Estados Unidos quanto à decisão de Washington de reativar as sanções ao Irã, alertando que o retrocesso pode minar o Conselho de Segurança da ONU (CSNU) e aumentar as tensões no Oriente Médio.
“Não vamos comprometer a ativação de um mecanismo que os Estados Unidos não estão em posição de ativar por conta própria depois de deixar o acordo”, disse Macron.
O presidente da Coréia do Sul, Moon Jae-in, pediu uma iniciativa regional de controle de doenças infecciosas e saúde pública envolvendo a China, Japão, Mongólia e Coréia do Norte para enfrentar as crises de saúde e estabelecer as bases para a paz com Pyongyang.
Líderes mundiais destacam pandemia, eleições dos EUA e tensões regionais em Assembleia da ONU“Diante da crise da Covid-19, (…), chegamos a ser fortemente lembrados de que a segurança dos países vizinhos está diretamente ligada à dos nossos,” disse Moon.