Um movimento fomentado por inúmeras fake news marcou as eleições de 2018 no Brasil: o que rasgou o laço de união que algum dia pode ter existido entre a esquerda e a religião. Com a disseminação das informações falsas, os que creem foram, em quase sua totalidade, para o lado da extrema-direita. É justamente sobre essa separação, que proporcionou a criação de outro elo político-religioso, que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), e o professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Júlio Vellozo, refletem em coluna publicada no site do jornal ‘O Globo‘ nesta semana.
“A beleza dos ritos religiosos, que tocam o coração de crentes e não crentes, está em sua dimensão coletiva, na vivência de uma comunhão de que necessitamos, mas que o individualismo selvagem nos arrancou”, destaca a dupla.
“A existência de líderes religiosos inescrupulosos, que espalham ódios, é indiscutível e deplorável. Porém há a imensa maioria de líderes probos e justos, em todas as religiões”, lembram.
Dino e Vellozo entendem que “não há o menor sentido filosófico ou político na suposta contradição entre esquerda e religião”, e citam passagens bíblicas para exemplificar a ideia. Eles alertam que a mudança do comportamento político de religiosos é a credencial para o enriquecimento de uma minoria.
“O afastamento entre esquerda e religião só interessa a uma pequena fração da sociedade, que cultua o individualismo e o império do dinheiro, da cobiça, da acumulação desvairada de bens materiais por poucos”, dizem.
Confrontando a tese de que é impossível ser cristão e comunista, por exemplo, a dupla volta a mencionar trechos da bíblia e, sobre os eventos das religiões, recorda que “tais garantias ingressaram no nosso sistema constitucional em 1946 por iniciativa de um deputado comunista, o reconhecido escritor Jorge Amado, autor da emenda consagradora da liberdade de crença e do livre exercício dos cultos religiosos”.
“(…) o aprofundamento do diálogo entre a esquerda brasileira e as religiões é um caminho imprescindível para que nossa nação tenha paz, a verdadeira paz que é fruto da justiça (Isaías, 32:17)”, finalizam.