Três de novembro é a data das eleições deste ano nos Estados Unidos. A 35 dias do pleito, Donald Trump e Joe Biden participaram do primeiro debate, na cidade de Cleveland, em Ohio. Na noite desta terça-feira (29), o que chamou a atenção do público e de especialistas foi a troca de acusações. Teve bate-boca em quase todos os temas e até o Brasil entrou no jogo de citações. Foram 90 minutos de conversa acalorada, divididos em seis blocos de 15 e sem intervalos.
Chris Wallace, da Fox News, foi o moderador do encontro e enfrentou dificuldades para conduzi-lo. Trump não cansou de interromper seu adversário. Chamado de “palhaço”, ele afirmou que Biden, líder nas recentes pesquisas, não é esperto.
A distribuição do tempo se tornou tarefa árdua para Wallace, já que Trump interrompeu até mesmo o moderador.
Primeiro a ser questionado, o atual presidente precisou explicar a indicação de Amy Coney Barrett para a Suprema Corte a pouco mais de um mês da eleição. Ele disse que não foi eleito para três anos, e sim quatro, esquecendo-se que, em março de 2016, seu partido impediu a nomeação de um juiz por Barack Obama, alegando que aquilo não era possível em ano de disputa pela presidência.
Quando a saúde passou a ser o assunto, o foco esteve no Obamacare – lei que estabelece a ampliação do acesso a este tipo de serviço. Trump promete encerrar o programa.
Após Biden dizer que Barret, a juíza indicada, acredita que o Obamacare “não é constitucional” e, por isso, Trump estaria entregando sua promessa de campanha, o atual chefe de Estado reagiu acusando o democrata de ser aliado da esquerda radical.
“Seu partido quer adotar a medicina socialista”, declarou Trump.
Covid-19
Ninguém supera os EUA no ranking mundial da Covid-19, com mais de 7 milhões de casos e 200 mil mortes. Neste momento do debate, Biden pediu para Trump “calar a boca”, irritando-se pela primeira vez. Mais tarde, o democrata chamou o oponente de “palhaço”, acusando-o de falar mentiras. Por sua vez, Donald disse que “não há nada de esperto” no rival.
“Eu não uso uma máscara como (Biden), toda vez que você o vê, ele tem uma máscara. Ele pode estar falando a 200 metros de distância e aparece com a maior máscara que eu já vi”, ironizou Trump, contrariando a indicação de especialistas sobre a prevenção ao coronavírus.
Seguindo a onda de ofensas, o republicano mencionou que Hunter, o único filho ainda vivo de seu adversário, teve problemas com drogas. Por sua vez, Biden apontou o rival como “o pior presidente que os Estados Unidos já tiveram”.
Brasil
O Brasil foi citado pelo democrata no tema sobre incêndios presentes na Califórnia. Biden disse que, se for eleito, quer canalizar US$ 20 bilhões em verba para a preservação da Amazônia, num trabalho com outras nações. O país sul-americano pode sofrer retaliações no governo de Biden, segundo o próprio sinalizou, caso permaneça a devastação da floresta, a qual ele lembrou que “está sendo destruída”. Do outro lado, Trump é aliado do atual presidente brasileiro, Jair Bolsonaro (sem partido), que tem buscado relativizar os problemas nos biomas nacionais e terceirizar a culpa por incêndios no Pantanal e na Amazônia.
“Parem de destruir a floresta e, se isso não acontecer, haverá consequências econômicas significativas”, ameaçou Biden.
Racismo
Ao debaterem o racismo, Trump se recusou a condenar publicamente as práticas grupos supremacistas brancos, principalmente o extremista de direita “Proud Boys”. O atual presidente apenas pediu para eles recuarem e ficarem “em stand by”.
“Este é um presidente que usou tudo como um apito de cachorro para tentar gerar ódio racista, divisão racista”, acusou Biden.
Como o próprio vem afirmando, Donald Trump vai contestar o resultado do pleito se for derrotado. Na noite de debate, ele, mais uma vez, apontou riscos de fraude na votação por correio, sem, entretanto, apresentar provas.
Biden trouxe para a discussão a matéria do jornal “The New York Times”, que revela o não pagamento de imposto por parte do republicano, e pediu para o concorrente mostrar “seu imposto de renda”.
Público e peso do debate
De acordo com uma rápida pesquisa da CNN, 60% do público da emissora consideraram Biden vencedor no debate, contra 28% que deram o triunfo para Trump. Porém, o levantamento produzido pela parceria Wall Street Journal/NBC News indica que 70% dos eleitores norte-americanos não dão peso relevante ao encontro entre os candidatos no processo de tomada de decisão de voto antes de irem às urnas ou enviarem suas escolhas pelo correio.