O programa Pátria Voluntária, liderado por Michelle Bolsonaro, recebeu do governo do marido da primeira-dama, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o repasse de R$ 7,5 milhões que haviam sido doados pela Marfrig para a compra de testes rápidos da Covid-19. É o que afirma uma reportagem da Folha de S. Paulo publicada no fim da noite desta quarta-feira (30), depois de o jornal receber informações da própria empresa.
Considerada um dos maiores frigoríficos de carne bovina do Brasil, a Marfrig anunciou, em 23 de março, que doaria o referido valor ao Ministério da Saúde. A finalidade deveria ser a compra de 100 mil testes rápidos da doença provocada pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2).
A própria empresa afirmou, por escrito, exatos dois meses depois, para a Folha, que a Casa Civil da Presidência da República lhe informou ter usado o dinheiro “com fim específico de aquisição e aplicação de testes de Covid-19”. Todavia, a Marfrig diz ter sido consultada pelo governo Bolsonaro, no dia 1° de julho, após a transferência do dinheiro, sobre a possibilidade de utilizar a verba para suprir outra necessidade das ações de combate à pandemia. Foi, então, que, segundo a reportagem, os recursos chegaram ao projeto Arrecadação Solidária, vinculado ao Pátria Voluntária, da primeira-dama.
A Folha já havia publicado que o programa liderado por Michelle fez o repasse da quantia do Arrecadação Solidária sem edital de concorrência. Os destinos eram instituições missionárias evangélicas aliadas da ministra Damares Alves, que, assim, poderiam comprar cestas básicas e distribuí-las. A advogada e pastora comanda o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos.
O programa teve arrecadação de R$ 10,9 milhões até o momento. Portanto, os R$ 7,5 milhões representam quase 70% deste total.
Na ocasião, a Marfrig concordou com a mudança de rumo do dinheiro, considerando que “a ação estava diretamente ligada à mitigação dos danos causados pela pandemia”. Isto porque, ao ser consultada sobre a alteração de planos do governo, ela foi informada de que a doação iria ser aplicada em “outras ações de combate aos efeitos socioeconômicos da pandemia de Covid-19, especificamente o auxílio a pequenos negócios de pessoas em situação de vulnerabilidade”.
Questionada pelo próprio jornal sobre o assunto, a Casa Civil não respondeu até o término da reportagem original da Folha.
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