Via Vermelho – Em uma reunião com clima de confraternização, música, comida típica e balões pretos, azuis e brancos do Movimento Ao Socialismo (MAS), a casa de uma militante na periferia da cidade de Colcapirhua, parte da metrópole de Cochabamba, se encheu de vida na última quinta-feira (8), e de esperança, pela contagem regressiva para o pleito do próximo dia 18 de outubro.
No centro da mesa, a prefeita de Vinto, Patricia Arce, que teve sua imagem mundialmente conhecida – e sua coragem reconhecida – pela forma como enfrentou e derrotou a covardia das hordas fascistas no dia 6 de setembro de 2019. Espancada e arrastada por milicianos pelas ruas, Patricia foi obrigada a caminhar de pés descalços, tendo o cabelo cortado e manchado pelos que, desrespeitando o resultado eleitoral, afastaram o presidente Evo Morales, que havia sido reeleito.
Acompanhando tudo com atenção, “la abuelita” Lorenza Arnez Tarqui, mais antiga batalhadora da Federação Departamental de Mulheres Originárias Indígenas de Cochabamba Bartolina Sisa, sintetizava a razão da sua presença.
“Antes de Evo os índios eram humilhados, eram analfabetos, pois não havia escolas. Também não existiam rodovias e os agricultores precisavam caminhar um dia, um dia e meio para trazer milho e cereais para vender na cidade. Depois, gastavam outro tanto para voltar. Precisamos que o MAS retorne pois ele reúne gente de valor”, afirmou dona Lorenza, do alto dos seus 92 anos. Quando Patricia Arce chegou ao evento, a avó aplaudiu: “mulher de coragem”.
Vestindo a camiseta homenageando Ernesto Che Guevara, “neste 8 de outubro, data da caída em combate do guerrilheiro heroico”, Miriam Cáceres, da Brigada de Trabalhadores Sociais justificava sua presença: “queremos seguir alfabetizando e irradiando para a juventude este sentimento de cuidar e proteger”.
“Como nos ensinou Che, precisamos viver para servir”, sublinhou Cáceres, somando seu apoio às candidaturas do MAS à presidência e ao legislativo, com ênfase na guerreira de Vinto.
De forma breve, finalizamos nossa presença ouvindo a Patricia Arce e sua avaliação desta reta final.
Presenciamos que a mídia boliviana tem jogado um papel tenebroso no que diz respeito a dar espaço para o contraditório, impondo sua visão dos fatos sobre a realidade. Qual a sua análise sobre isso?
É mais do que lamentável que existam bolivianos que pensem somente em seus mesquinhos interesses pessoais, que não pensem no desenvolvimento coletivo e no progresso do país. Realmente dá vergonha, porque sabemos muito bem que quem dirige tudo isso está sendo comandado desde fora.
Há uma minoria que recorre à calúnia e à enganação por não ter propostas nem plano de governo. Por isso se utilizam dos meios de comunicação para transmitir mentiras, como se com a falsificação pudessem construir uma outra realidade.
Felizmente, o povo boliviano despertou e já não é mais massa de manobra, ignorante, sem amor à sua terra. Graças ao nosso irmão presidente Evo Morales passamos a conhecer o que era o amor às nossas raízes, à nossa Pátria. Por isso dizemos que este 18 de outubro será o momento de coroar a vitória do povo, porque os bolivianos despertaram.
O presidente da transnacional Tesla reconheceu que patrocinou o golpe na Bolívia pelo lítio, e que fará tantas vezes quantas forem necessárias.
Nestes 14 anos, recuperamos nossos recursos naturais, nacionalizamos e estávamos a um passo de industrializar o nosso lítio, o que será imprescindível para impulsionar a economia do país. Por isso é que interesses externos, particularmente dos Estados Unidos, colocaram olho gordo neste mineral estratégico para se apropriar de uma riqueza que cumprirá um papel fundamental não só para o desenvolvimento atual como das futuras gerações.
Na batalha contra o Movimento Ao Socialismo há uma guerra contra uma classe social, e isso fica evidenciado quando eles nos chamam de índios, querendo segregar-nos e afastar-nos dos centros de poder.
Como pode um empresário estrangeiro afirmar que vai invadir e promover golpes de Estado? Voltam a falar abertamente em se apropriar das nossas riquezas, como fizeram anteriormente com a água e com o gás, mas vale lembrar que foram derrotados.
Com o MAS, a Bolívia teve um longo período de desenvolvimento contínuo e os neoliberais em poucos meses liquidaram a economia. Por onde iniciar a recuperação?
Sabemos muito bem o que foram os anos de trabalhar para construir, por isso o caminho já está traçado. Com Lucho e David seguiremos adiante junto com a nossa chapa de deputados e senadores para reconstruir a economia e seguir adiante. Lucho é o melhor economista que a Bolívia já teve em toda a sua história, o que com sua capacidade nos dá segurança para avançar. Neste momento estamos mal economicamente, estamos mal politicamente, estamos mal socialmente, e isso precisa mudar.
Nesta conjuntura, qual a importância das eleições?
Mais do que nunca é preciso que os nossos irmãos e irmãs bolivianas tenham muita consciência porque estamos jogando com o futuro de nossos filhos e netos. Se não ganharmos neste dia 18 novamente seríamos transformados em mendigos, teríamos que ser pedintes, dependentes do exterior, dos mesmos que levam nossos recursos e isso é inaceitável. Temos recursos para a construção de escolas, hospitais e rodovias, o que não podemos deixar é que nos roubem. A decisão para vencer está com cada um de nós.
Fonte: Carta Maior