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Alegria, fé e esperança de candidatas marcam evento do ‘Maricá das Mulheres’

Portal65

“Abram alas”, pois as feministas do “coração vermelho” querem passar e “andar tranquilamente na favela” em que nasceram. Maricá é, de fato, das mulheres, como sugere o nome do movimento que busca fortalecer candidatas do município. Na manhã deste sábado (24), a três semanas das eleições, durante uma caminhada iniciada na Rodoviária, cânticos eram entoados em ruas do Centro da cidade, trazendo referências de Chiquinha Gonzaga, Fafá de Belém e do funk carioca representado pelas letras da dupla Cidinho & Doca. Uma mistura que reforça a diversidade pregada pelos atos de esquerda. Se Gonzaga foi a primeira mulher a reger uma orquestra no Brasil, as maricaenses almejam derrubar o monopólio dos homens na Câmara de Vereadores que já dura duas décadas.

Dentre as postulantes ao Legislativo, membros do PCdoB dialogavam com o público, como a pastora Marla Soares, de 43 anos, da Igreja Evangélica Restaurar, em Itaipuaçu. Acompanhada pelo pai, o também pastor Aloísio Ribeiro, 68, ela contou ao Portal65 o desejo de batalhar pelas melhores condições possíveis para os cidadãos e possibilitar a igualdade. Para isso, tenta superar a barreira da divergência ideológica.

“É um grande desafio, independentemente do lugar, algumas pessoas não sabem diferenciar religião de política. Eu sou do povo, amo lutar pelo direito das pessoas, amo servir ao senhor, mas amo lutar pelo direito daquilo que é da população. Por isso, o meu partido é o da esquerda, porque eu luto pelo direito de igualdade das pessoas, independentemente de religião”, afirmou a candidata.

“Jesus é o caminho, nunca fez discriminação a ninguém, sempre amou a todos de maneira muito igual, direcionada. Eu sempre falo: religião, política e futebol não se discutem, cada um tem a sua. A bíblia diz que o maior dom é o amor. Se não existe ele, de que adiantam as outras coisas? A gente fala muito sobre preconceito, resistência, com relação à política, mas muitas vezes os próprios cristãos são os que excluem, eles que separam, e não é isso que Jesus faz. Por isso eu luto e estou na rua hoje, porque sei que existe um povo dentro das mulheres, dentro da igreja, que precisa que alguém vá para que possa tirar a visão distorcida do que verdadeiramente é o evangelho de Jesus”, finalizou a pastora, tentando segurar a emoção ao soltar as palavras.

Esperança e luta

A professora Simone Miranda também mergulhou nesse desafio. Conhecida como Mãe Simone, ela acredita que o “Maricá das Mulheres” tem potencial para mudar o quadro atual de exclusividade masculina no grupo de políticos que decidem pelo município.

“Essa união é de suma importância para nós, mulheres da cidade. Quando as mulheres nos veem reunidas, elas veem que a gente têm um propósito e que estamos querendo, realmente, ocupar espaço para termos políticas públicas efetivas próximas de nós, pois somos nós que conhecemos nossas necessidades. É muito importante termos essa visibilidade e a cidade enxergar a gente. Esse movimento mostra que Maricá tem mulher e vai ter mulher na Câmara, sim”, destacou a postulante ao cargo de vereadora, que é presidente municipal da União Brasileira de Mulheres (UBM).

Cuidadora de idosos, Sol de Maricá, 47, espera combater a agressão doméstica. Na lista de suas propostas constam projetos dedicados aos mais velhos, ao turismo e à cultura, por exemplo.

“É maravilhoso você ter esse contato que havia sido impossibilitado por conta da pandemia. Estar de frente para o povo, olhando nos olhos da população, conversando, é fundamental. É um evento muito importante. Estamos defendendo as mulheres que sofrem violência. Não tem coisa melhor do que esse contato com o povo”, observou.

Representatividade de forma efetiva

Rafaela Lima tem 39 anos. Candidata do Partido Comunista do Brasil, assim como Marla, Simone e Sol, a estudante de ciência política visa ser uma representante das mulheres no cenário político de Maricá, porém enfatiza ser necessário que a(s) escolhida(s) pelos eleitores tenham participação efetiva e façam a diferença.

“Primeiramente, precisamos da democratização desse espaço de poder e de tomada de decisão. Não podemos colocar uma mulher lá dentro apenas de uma forma simbólica, mas sim com representatividade e ativismo. Não é estar somente ali na Câmara de Vereadores, mas é estar e conseguir dialogar, fazendo essa ponte entre a sociedade civil e os Poderes Executivo e Legislativo. Falta uma voz da mulher lá dentro. Muitas vezes temos homens decidindo por nós. Nem sempre a pessoa defende o que realmente o outro está precisando. Leonardo Boff tem uma frase muito interessante na qual ele diz: ‘a cabeça pensa a partir de onde os pés pisam’. Então, se a pessoa não faz parte daquela comunidade que tem tais necessidades, ela não vai conseguir levar essas necessidades para esses espaços”, considera.

Além das candidatas, o ato deste fim de semana contou com a presença de Diego Zeidan. Filho do ex-prefeito Washington Quaquá (PT), ele é o vice da chapa petista encabeçada pelo atual gestor do município, Fabiano Horta.

O evento – relacionado à Caminhada Outubro Rosa – faz parte de uma iniciativa proposta por movimentos sociais feministas da cidade e foi aderido por candidatas.