Em nota técnica, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) declarou que a rede do Sistema Único de Saúde (SUS) da capital do Rio de Janeiro está em colapso. O documento foi obtido pelo jornal O Globo. Mais de 1.250 pessoas estão internadas em hospitais públicos, e o número continua subindo. As UTIs tem, no momento, 551 pacientes.
A taxa de ocupação de leitos de terapia intensiva está em 92% na capital fluminense. Já são 406 pessoas na fila aguardando por um leito de UTI. Segundo especialistas, o cenário vivido já era previsto e “poderia ter sido evitado”.
O estado do Rio de Janeiro possui a maior taxa de mortalidade por coronavírus no País, de acordo com dados do Ministério da Saúde. São 131 mortes por 100 mil habitantes. Em São Paulo, por exemplo, o índice é de 91 óbitos também por 100 mil habitantes. No Brasil, a taxa é de 80 mortes.
De acordo com a Fiocruz, 27% das mortes ocorreram antes de os pacientes chegarem à UTI. A instituição afirma que falta acesso aos leitos de terapia intensiva, sendo este um dos motivos para o cenário atual. Os pesquisadores estão preocupados com o colapso no sistema de saúde neste mês de dezembro por conta das festas de fim de ano.
Pessoas infectadas pelo novo coronavírus ou que lutam contra doenças crônicas ficaram sem atendimento médico ou UTIs. Como consequência, óbitos têm ocorrido em residências.
Membro do Monitora Covid-19 e pesquisador da Fiocruz, o sanitarista Christovam Barcellos disse ao jornal que “nem todos (os óbitos) foram por Covid-19, mas indiretamente de pessoas que ficaram sem assistência”. Ele também alerta para o fato de que o colapso no sistema de saúde já é notável.
“A alta maior (de mortes) foi em abril/maio, na grande crise, mas, em outubro, os óbitos fora de hospitais voltaram a aumentar. O pico de agora é menor, mas a capacidade do sistema de saúde piorou. É um colapso gerado pelo próprio sistema. Isso foi avisado que poderia acontecer, se houvesse novo aumento de caso”, afirma Barcellos. Ele lembra que a vaga na UTI não é garantida com a hospitalização e que “muitos estão morrendo de Covid-19 fora de unidades de terapia intensiva, mesmo com a confirmação da doença”.
Apenas 40% das mortes decorrentes de coronavírus no Rio foram em UTIs, de acordo com a conclusão dos especialistas. No documento, há a indicação de que “provavelmente mais da metade da população que veio a óbito por Covid-19 no município sequer teve a chance de receber atendimento intensivo”.
“Temos outras doenças que não pararam no tempo. Isso poderia ter sido evitado se acompanhássemos a segunda onda na Europa. Era previsível que acontecesse aqui também”, destacou Gulnar Azevedo, professora de epidemiologia da Uerj e presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco).
O prefeito Marcelo Crivella e o governador em exercício Cláudio Castro se reuniram, na manhã desta quinta-feira (3), para definirem as medidas a serem adotadas. Pode haver o impedimento da realização de alguns eventos, entre outras restrições. Na quarta (2), o comitê científico da Prefeitura recomendou o fechamento de escolas e praias, além da proibição de festas.