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Políticos pedem socorro para Manaus, artistas se mobilizam e Bolsonaro diz ter feito o possível

Divulgação/Centro de Comunicação Social da Aeronáutica

Rejeição às medidas de segurança, abertura do comércio, negacionismo sobre as vacinas e a ciência, curva ascendente no número de casos da doença e falta de apoio governamental. A conta da pandemia de Covid-19 no Brasil não poderia ter outro resultado que não o caos. No Amazonas, o cenário das últimas horas é de colapso no sistema de saúde, com recordes de internação ocasionados pelo alto contágio do novo coronavírus (Sars-CoV-2).

Na manhã desta sexta-feira (15), começou o processo de transferência dos 235 pacientes de Manaus, capital do estado, que ainda precisam ser levados a hospitais de outras federações. Aeronaves da Força Aérea Brasileira (FAB) fazem o transporte. Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte e Paraíba são os destinos. Também deverão receber pacientes: Goiás, Pernambuco, Ceará e o Distrito Federal.

Para completar, uma nova variante do coronavírus que causa a Covid-19 foi encontrada no Amazonas. É a mesma identificada no Japão.

Sem oxigênio nos hospitais amazonenses, cilindros foram transportados nos carros dos próprios médicos até as unidades de atendimento. Famílias buscam comprar insumos, cemitérios estão lotados e câmaras frigoríficas tiveram de ser instaladas. Enquanto tudo isso acontece, o presidente da República segue seus compromissos. Jair Bolsonaro (sem partido) foi buscar uma reversão no caso para realizar o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no Amazonas neste domingo (17), depois que a Justiça Federal suspendeu as provas no estado.

O Brasil, que, para muitos, em 2018, “viraria” a Venezuela se a esquerda vencesse as eleições, acabou sendo socorrido pelos vizinhos da terra de Nicolás Maduro. O presidente venezuelano orientou que sua diplomacia colocasse imediatamente à disposição do governador do Amazonas, Wilson Lima (PSC), o oxigênio necessário para atender à contingência sanitária em Manaus.

Para a deputada federal Jandira Feghali (PCdoB-RJ), o cenário vivenciado no Amazonas “decorre de uma série de crimes que não começaram ontem”. Ela cita o negacionismo como componente fundamental para a situação.

“Isso é o acúmulo da negação de algo chamado ciência, da negação de uma pandemia que foi minimizada. Isso decorre de um acúmulo de fake news provocando a sociedade para acabar com o lockdown ou com as medidas de restrição nas cidades, inclusive em Manaus. E o prefeito tirou as medidas de restrição, o que foi comemorado pelos deputados bolsonaristas. As medidas foram suspensas e aplaudiram o prefeito porque suspenderam o lockdown”, afirmou a parlamentar.

“Estão fazendo isso no Brasil inteiro. Todas as cidades pressionando para não usar máscaras, porque não adianta, segundo eles, os negacionistas de Bolsonaro, não adianta lavar as mãos. Vacina, então, para quê? E vejam que, pelo que saiu na imprensa, a empresa já havia informado que estavam com dificuldade de fornecer oxigênio. A curva ascendente da doença já dizia que isso iria acontecer. Que medidas, de fato, foram tomadas?”, questiona a deputada.

Na visão de Jandira, “tudo isso nos mostra que os crimes só se acumulam e que essas mortes têm responsáveis”. Diante da gravidade da pandemia no País e de outros problemas enfrentados, ela faz um apelo: “Chega. Basta. Não dá mais”.

“Dois mil e vinte e um precisa ser um ano de luta concreta, e o Congresso não pode mais ficar com olhar de paisagem, olhando como se nada disso estivesse acontecendo. Precisa reagir”, frisa a parlamentar, que considera que “Bolsonaro não pode mais comandar o Brasil”.

“Precisamos, imediatamente, em fevereiro, entrar com uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) relâmpago, apurando responsabilidades para sustentar um pedido de impeachment real, concreto”, avalia Feghali.

Senadora entre 2011 e 2019 pelo Amazonas, a farmacêutica Vanessa Grazziotin, que é filiada ao PCdoB, também pede um basta: “Isso é um genocídio! Precisamos salvar vidas! Brasil e Amazonas estão à deriva. A solidariedade das pessoas tem sido grande, mas precisamos de ações mais fortes e urgentes”, disse.

“O que leva essas pessoas a desprezarem a vida não é ignorância, é opção de classe. Estão nem aí para a vida das pessoas, nem aí para os empregos, nem para a situação social”, acrescenta.

Grazziotin ressalta que “Manaus vive um segundo pesadelo, pior que o primeiro”. Ela clama por socorro: “Primeiro, vamos salvar vidas. Depois, responsabilizar quem deixou que chegássemos nessa situação caótica. O Estado está desgovernado”, relata.

No início desta sexta-feira, Bolsonaro disse que o governo federal trabalhou para melhorar as condições na capital amazonense. Ele citou a visita de Eduardo Pazuello realizada durante a semana.

“A gente está sempre fazendo o que tem que fazer, ? Problema em Manaus: terrível o problema lá. Agora, nós fizemos a nossa parte, com recursos, meios”, avaliou.

“O ministro da Saúde [Eduardo Pazuello] esteve lá na segunda-feira, providenciou oxigênio, começou o tratamento precoce, que alguns criticam ainda”, destacou o presidente, que já chegou a chamar a Covid-19 de “gripezinha” e afirmou que os brasileiros precisavam deixar de serem “maricas” e enfrentar, “de peito aberto”, a realidade diante da pandemia.

Solidariedade, indignação e apelos

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), espera que “os irresponsáveis que chamam o coronavírus de ‘gripezinha’ e absurdos similares paguem pelo caos. Perante os tribunais, perante a história e perante Deus”. Em declarações ao “Radar”, da revista “Veja”, ele disse estar à disposição para auxiliar.

“Impossível não se indignar e não se emocionar. O Maranhão está pronto para ajudar no que for necessário, como já informei ao governador Wilson (Lima)”, colocou.

Pelas redes sociais, o ex-ministro da Saúde, deputado federal Alexandre Padilha (PT-SP), chamou o caso de Manaus de “colapso pré-anunciado”, citando “omissão, inoperância e chacotas” do governo Bolsonaro. Já Fernando Haddad (PT), que foi ao segundo turno nas últimas eleições presidenciais, falou em afastamento de Jair Bolsonaro e escreveu: “Pessoas morrendo asfixiadas depois de quase um ano de pandemia. Não há maior prova de incompetência”.

Assim como Jandira e Haddad, Ciro Gomes (PDT) defendeu a abertura de um processo de impeachment contra Bolsonaro. Ex-governador do Ceará, o candidato ao cargo máximo do Brasil nos pleitos de 1998, 2002 e 2018 deixou um recado ao presidente da Câmara dos Deputados.

“Mais uma prova contundente da responsabilidade do Governo Federal pelas mortes em Manaus. Bolsonaro é um genocida. Rodrigo Maia, abra o processo de impeachment! Deixe o povo saber de todos os crimes cometidos por Bolsonaro! Ele deve ir para a cadeia”, declarou.

‘Corrente do bem’

A mobilização para prestar socorro também chegou aos artistas. O youtuber, ator, comediante e cantor Whindersson Nunes anunciou, na noite de quinta-feira (14), que providenciaria recursos para a compra de 20 cilindros de oxigênio para hospitais de Manaus e pediu ajuda aos colegas. Na manhã desta sexta, Yuri Marçal avisou que estão “conseguindo o transporte dos cilindros”.

Por sua vez, o cantor Gusttavo Lima garantiu a obtenção de 150 cilindros. Os atores e comediantes Marcelo Adnet e Tirullipa, a atriz e apresentadora Tata Werneck, o cantor Tierry e as cantoras sertanejas Marília Mendonça e Simone também aderiram ao movimento de ajuda. Cada um deles, segundo Whindersson, irá colaborar com valores para a aquisição de dez cilindros de 50 litros. A corrente por doações dos famosos continua.