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Dilma: ‘Aumentaram a população mais frágil e reduziram a margem para gastar com ela’

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Via Vermelho – A ex-presidenta Dilma Rousseff afirmou que “inexiste” a possibilidade de Jair Bolsonaro manter o auxílio emergencial – que lhe garantiu aumento de popularidade evidenciado em pesquisa do Datafolha divulgada nesta sexta-feira (14) – e, ao mesmo tempo, preservar o teto de gastos. Na avaliação de Dilma, nos próximos dias o mundo político deve se movimentar em torno desse impasse. Ela disse ainda que há uma visão “simplória” de Bolsonaro como uma pessoa “tosca”.

“O que acho que estará [em pauta] é essa contradição da capacidade do Bolsonaro de manter os R$ 600. Essa capacidade inexiste na regra do teto de gastos. Não é possível. Não só porque o cobertor é curto, mas porque é muito dinheiro para furar o teto. Esse valor de R$ 30 bilhões [investimento que alguns ministros de Bolsonaro demandam para o programa de obras Pró-Brasil] é insignificante em um país como o Brasil. Agora, diante dos R$ 600 até o final do ano, não dá nem para o início”, argumentou.

O custo do pagamento do auxílio emergencial é de R$ 50 bilhões mensais. Para se ter uma ideia, o custo do Bolsa Família é de R$ 32 bilhões ao ano, o que dá cerca de R$ 2,5 bilhões ao mês.

Dilma Rousseff deu as declarações sobre o tema em live da Semana de Economia da Unicamp. A ex-mandatária disse ainda que, caso Bolsonaro não consiga implementar um programa de transferência de renda que lhe garanta apoio, o “bom comportamento” do presidente deve acabar.

Dilma considera “interessante” que Bolsonaro tenha se apropriado da proposta de auxílio da oposição – o governo federal havia enviado ao Congresso um projeto de amparo três vezes menor, de R$ 200 – pois ela bate de frente com a agenda de liberalismo econômico com que se elegeu.

Segundo a ex-presidenta, a enorme quantidade de pessoas que se viram desamparadas com a pandemia e, consequentemente, necessitaram do auxílio emergencial, reflete um desmonte trabalhista e da estrutura de proteção social que vem sendo implantado desde o governo de Michel Temer.

“Aumentaram, de um lado, a população mais frágil, e reduziram a margem de manobra para gastar com essa população [com o teto de gastos]. Hoje você precisa de auxílio emergencial muito maior, por quê? Porque tem um aumento violento do precarizado, das pessoas que não têm com que viver”, declarou.

Sentimento popular

Ao mesmo tempo, Dilma destacou a habilidade de Bolsonaro em captar o sentimento popular e se comunicar com parcelas da sociedade. “Há uma visão um tanto simplória, do Bolsonaro como sendo uma pessoa tosca, apenas violenta, apenas fascista. Ele é uma liderança que busca, no campo da ultra direita, construir um projeto político muito claro”, comentou.

“Bolsonaro envelopou três questões: a questão da corrupção, da família e da segurança. [Disseram que] porque roubaram o Brasil a crise veio e as pessoas perderam suas riquezas. Deixaram as pessoas desprotegidas, inseguras e atingiram a base da família. Aquela família que é a família clássica, o homem, a mulher, explorando pautas antifeministas, anti-LGBT e enveloparam tudo dizendo: ‘É por isso que a sociedade é insegura, porque esses valores foram corroídos’”, opinou Rousseff.

Segundo Dilma, o projeto de Bolsonaro envolve um segmento da igreja evangélica que “aderiu de unhas e dentes, porque tem um projeto de poder”. “Tem milhões de evangélicos que não têm essa visão do mundo e da vida [semelhante à de Bolsonaro]. Mas acredito que ela está encrustada em boa parte das massas populares desse País, e nós não podemos simplesmente lavar as mãos e dizer que vai ficar assim mesmo. E [temos] o desafio da territorialidade, de sermos capazes de voltar às chamadas articulações de base, o que implica estar não no parlamento, mas na articulação, na organização”, sintetizou.