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Dilma rebate declaração de Bolsonaro sobre tortura e recebe apoio de Lula, Dino, FHC e Maia

Divulgação/Facebook/Dilma Rousseff

“Pela memória do coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, o pavor de Dilma Rousseff, pelo exército de Caxias, pelas Forças Armadas, pelo Brasil acima de tudo e por Deus acima de todos, o meu voto é sim”, disse Jair Messias Bolsonaro em abril de 2016, durante a votação do processo de impeachment da então presidenta Dilma Rousseff (PT) na Câmara dos Deputados. Nesta segunda-feira (28), o homem que comanda o Brasil desde 2019 voltou a atacar. Desta vez, exaltar torturador na mesma frase em que cita Deus não foi suficiente. Duvidou da tortura sofrida pela petista e outras vítimas da ditadura militar. Ela rebateu a declaração e recebeu o apoio de aliados e adversários políticos.

“Dizem que a Dilma foi torturada e fraturaram a mandíbula dela. Traz o raio-X para a gente ver o calo ósseo. Olha que eu não sou médico, mas até hoje estou aguardando o raio X”, afirmou Bolsonaro, em conversa com apoiadores no Palácio da Alvorada, ao comentar o caso Celso Daniel. O ex-prefeito petista de Santo André foi morto há 19 anos – a serem completados no próximo dia 18 – com 11 tiros.

Após tomar conhecimento das falas do presidente, o deputado federal Rogério Correia, do PT de Minas Gerais, cobrou de seu partido um pedido de impeachment contra Bolsonaro por crime de apologia à tortura.

“Bolsonaro cometeu crime de apologia e cumplicidade com as torturas no regime militar ao dar gargalhadas e debochar da presidenta Dilma e de todos os mortos e presos durante a ditadura. É caso da bancada do PT solicitar impeachment do presidente!”, escreveu Correia, via Twitter, nesta terça (29).

Em nota, Dilma respondeu Bolsonaro. A ex-presidenta destacou que “é triste, mas o ocupante do Palácio do Planalto se comporta como um fascista. E, no poder, tem agido exatamente como um fascista. Ele revela, com a torpeza do deboche e as gargalhadas de escárnio, a índole própria de um torturador. Ao desrespeitar quem foi torturado quando estava sob a custódia do Estado, escolhe ser cúmplice da tortura e da morte”.

“Como não respeita nenhum limite imposto pela educação e pela civilidade, uma exigência a qualquer político, e mais ainda a um presidente da República, desmoraliza mais uma vez o cargo que ocupa. Mostra-se indigno ao tratar com desrespeito e com deboche o fato de eu ter sido presa ilegalmente e torturada pela ditadura militar”, disse Rousseff, ressaltando ainda que “um sociopata, que não se sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro”.

Os também ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB) repudiaram a fala de Jair. Para o petista, “o Brasil perde um pouco de sua humanidade a cada vez que Jair Bolsonaro abre a boca”. Rival histórico do Partido dos Trabalhadores, o tucano escreveu que “brincar com a tortura dela — ou de qualquer pessoa — é inaceitável. Concorde-se ou não com as atitudes políticas das vítimas. Passa dos limites”.

“Dos vários absurdos perpetrados por Bolsonaro hoje, o mais abjeto foi ironizar e rir de uma ex-presidente da República que foi presa e torturada pela ditadura militar. Minha solidariedade a Dilma. Enquanto isso, o Brasil segue sem vacinação e sem rumo”, enfatizou o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB).

Presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ) disse que “Bolsonaro não tem dimensão humana” e que “tortura é debochar da dor do outro”.

“Falo isso porque sou filho de um ex-exilado e torturado pela ditadura. Minha solidariedade a ex-presidente Dilma. Tenho diferenças com a ex-presidente, mas tenho a dimensão do respeito e da dignidade humana”, acrescentou Maia.

Detida e torturada no início dos anos 1970, Dilma esteve presa por dois anos e meio em diferentes estados do País. Em 2012, ela decidiu doar para o grupo “Tortura Nunca Mais” a indenização que teve direito a receber do governo do Rio de Janeiro por causa das agressões sofridas.

Confira a íntegra da nota de Dilma Rousseff:

“Jair Bolsonaro promoveu mais uma de suas conhecidas sessões de infâmia e torpeza, falando a um pequeno grupo de apoiadores, nesta segunda-feira, 28 de dezembro.

Como não respeita nenhum limite imposto pela educação e pela civilidade, uma exigência a qualquer político, e mais ainda a um presidente da República, desmoraliza mais uma vez o cargo que ocupa. Mostra-se indigno ao tratar com desrespeito e com deboche o fato de eu ter sido presa ilegalmente e torturada pela ditadura militar. Queria provocar risos e reagiu com sórdidas gargalhadas às suas mentiras e agressões.

A cada manifestação pública como esta, Bolsonaro se revela exatamente como é: um indivíduo que não sente qualquer empatia por seres humanos, a não ser aqueles que utiliza para seus propósitos. Bolsonaro não respeita a vida, é defensor da tortura e dos torturadores, é insensível diante da morte e da doença, como tem demonstrado em face dos quase 200 mil mortos causados pela Covid-19 – que, aliás, se recusa a combater. A visão de mundo fascista está evidente na celebração da violência, na defesa da ditadura militar e da destruição dos que a ela se opuseram.

É triste, mas o ocupante do Palácio do Planalto se comporta como um fascista. E, no poder, tem agido exatamente como um fascista. Ele revela, com a torpeza do deboche e as gargalhadas de escárnio, a índole própria de um torturador. Ao desrespeitar quem foi torturado quando estava sob a custódia do Estado, escolhe ser cúmplice da tortura e da morte.

Bolsonaro não insulta apenas a mim, mas a milhares de vítimas da ditadura militar, torturadas e mortas, assim como aos seus parentes, muitos dos quais sequer tiveram o direito de enterrar seus entes queridos.

Um sociopata, que não se sensibiliza diante da dor de outros seres humanos, não merece a confiança do povo brasileiro.”