Na visão de especialistas, o Brasil não deverá encontrar brechas para aproveitar uma futura crise global. A tensão entre Estados Unidos e China, que representam as duas principais economias do planeta, tende a prejudicar o comércio em dimensão mundial.
O país norte-americano resolveu que os asiáticos precisam fechar o Consulado-Geral chinês em Houston. Além disso, houve a acusação de que hackers chineses buscaram roubar informações relacionadas aos projetos de vacinas contra a Covid-19. Agravando ainda mais o cenário, o presidente Donald Trump informou que há a possibilidade de outras missões diplomáticas dos asiáticos serem fechadas nos Estados Unidos.
Se os americanos não abdicarem da decisão, haverá uma reação com contramedidas firmes. Ao menos é o que prometeram as autoridades de Pequim. Já nesta sexta-feira (24), os EUA receberam a notificação de que irão ter de fechar o consulado americano em Chengdu, segundo ordens chinesas. Em entrevista à Sputnik Brasil, a professora de economia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper), Juliana Inhasz, fez uma avaliação do cenário.
“As pautas de importação e exportação entre China e Estados Unidos são muito focadas em produtos industrializados e de alta tecnologia. Quando a gente olha o que eles comercializam entre si, desde aviões, instrumentos médicos, aparelhos eletrônicos, carros e até máquinas, equipamentos, celulares, televisores… Eles geralmente trocam entre si produtos de alto valor agregado. Existem, óbvio, dentro dessas pautas, um pouco de produtos que são mais agros, mas a parcela é, de fato, muito pequena. O Brasil poderia entrar dentro dessa comercialização se tivesse produtos de alto valor agregado, produtos industrializados”, disse a professora.
“Um possível ganho poderia acontecer caso o Mercosul estivesse melhor articulado”, observou Inhasz, ressaltando que “ainda assim, a disputa entre os dois gigantes gera uma desaceleração do comércio global”.
Já o presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro, espera uma retração de 18,5% no comércio mundial, quando se comparar o segundo trimestre com o mesmo período de 2019.
“Este cenário não é otimista para o Brasil porque a retração na economia global deve gerar uma queda no preço das commodities, que são os itens mais importantes das exportações nacionais”, apontou Castro.