Foi instaurada, nesta terça-feira (1), pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), uma investigação para apurar se houve prática de crimes, por parte do prefeito Marcelo Crivella, na montagem e manutenção de um serviço ilegal na porta de hospitais municipais. Em reportagem exibida na noite desta segunda (31), o RJ2, da TV Globo, revelou o esquema envolvendo funcionários públicos que tem como objetivo atrapalhar o trabalho jornalístico, com gritos, ofensas e hostilidades aos repórteres. Além disso, eles atuam para impedir a população de falar e denunciar problemas na área da Saúde.
De acordo com a reportagem, em três grupos de WhatsApp, funcionários são distribuídos, em dupla, por unidades de saúde municipais, garantindo uma espécie de plantão. Eles buscam atrapalhar a produção de material elaborado pela imprensa que aborde denúncias relacionadas à saúde pública, além de intimidar pessoas dispostas a proferirem críticas à prefeitura. Um dos grupos se chama “Guardiões do Crivella”.
Segundo informações divulgadas pelo RJ2, depois de serem escalados, os funcionários postam selfies para comunicar que estão presentes nas unidades. Um deles, que possui salário de mais de R$ 10 mil, aparece ao lado de Crivella em várias fotos. Há até comemoração quando a missão é realizada com êxito. Sem negar a existência dos grupos, a prefeitura justifica que esta medida é para “melhor informar a população”.
Na lista de participantes de um dos grupos está um telefone registrado como sendo do próprio prefeito. De acordo com apurações do Jornal Nacional, Marcelo Crivella já usou esse número. A equipe de reportagem da Globo ligou para o aparelho, porém ninguém atendeu.
Com apoio do Grupo de Atribuição Originária Criminal da Procuradoria-Geral de Justiça, a Subprocuradoria-Geral de Justiça de Assuntos Criminais e de Direitos Humanos ficou encarregada de conduzir a investigação.
O crime, neste caso, se confirmado, é o de associação criminosa, previsto no artigo 288 do Código Penal. Também vai ser avaliada a prática de conduta criminosa do artigo 1º, inciso II do decreto lei 201/67. Este último trata da responsabilidade de prefeitos.
Casos recentes
No dia 20 de agosto, dona Vânia cobrava uma transferência para a mãe, que tem câncer, no Hospital Rocha Faria. Ela não conseguiu terminar a entrevista ao vivo com a repórter Nathália Castro, para o Bom Dia Rio. Isso porque dois homens iniciaram uma série de agressões verbais e gritos de “Bolsonaro”. Nathália pediu desculpas para a entrevistada e finalizou a reportagem, mas a intimidação prosseguiu e uma confusão foi gerada.
Situação semelhante passou o repórter Ben-Hur Corrêa no Hospital Rocha Faria, dias depois. Ele falava da falta de equipamentos de raios-x. Novamente, dois homens impediram a sequência da denuncia. Um deles, posteriormente, colocou o crachá e foi em direção ao interior do hospital.
A reportagem apurou que esses agressores são contratados da prefeitura do Rio. Eles recebem salários pagos pelo contribuinte para vigiar a porta de hospitais e clínicas. Desta forma, asseguram a “tranquilidade” das autoridades e a continuação do sofrimento de quem depende dos serviços.