Em Ponta Grossa, candidatas ao Legislativo de Maricá e representantes de movimentos sociais estiveram reunidas na última quinta-feira (8), no salão nobre do Plaza Pet, para a assinatura de uma carta-compromisso e o pré-lançamento da ação ‘Maricá das Mulheres’, do coletivo 8M. As mulheres progressistas visam a igualdade de gênero em todas as áreas, como, por exemplo, no poder legislativo.
O documento, que tem inspiração nas proposições da 5ª Conferência Municipal de Política para Mulheres e no ato de 8 de Março, vai ser entregue aos vereadores e ao prefeito empossados em 2021. As candidatas sublinham que, dos 5.568 municípios brasileiros, 1.291 (23%) não possuem sequer uma mulher na Câmara de Vereadores.
Em apenas 23 cidades há mais mulheres do que homens nas casas legislativas. No cenário de Maricá, a história aponta a existência de somente três vereadoras em 206 anos.
Presidente da União Brasileira de Mulheres (UBM) em Maricá, a professora Mãe Simone destacou o progresso que o movimento proporciona na caminhada de cada uma das envolvidas no projeto de participação feminina efetiva na política. Ela concorre ao cargo de vereadora nas eleições deste ano pelo PCdoB.
“Com o pré-lançamento do Maricá das Mulheres, avançamos mais um pouco na direção do que se propõe o coletivo 8M. Maricá das Mulheres é uma ação desse coletivo que luta na construção de uma cidade igualitária, que luta para que as mulheres alcancem os espaços de poder e decisão dessa cidade. Somos a maioria do eleitorado, e ocupar esses espaços se faz necessário, pois Maricá é uma cidade comprometida em exercer a democracia de fato, disso eu não tenho dúvida. Temos um governo que trabalha em prol da população maricaense. Então, seguimos com a construção desse projeto, que é reunir mulheres progressistas de vários partidos”, disse a candidata Mãe Simone.
“Com certeza, fará a diferença elegendo vereadoras para a Câmara Municipal. Quero agradecer a oportunidade de poder estar nas mesmas fileiras de luta, junto de mulheres maravilhosas. Tenho orgulho de pertencer a essa luta antifascista, antibolsonarista. Orgulho de estar do lado certo da história. Seguimos lutando com a certeza de alcançarmos os nossos objetivos”, completou.
Além de Mãe Simone, o Partido Comunista do Brasil estará representado no pleito de novembro por outras concorrentes. São elas: Ângela Marques, Sol de Maricá, Mary Luiza de Itaipuaçu, Camila Surgek, Eliana do Inglês, Pastora Marla e Rafaela Lima.
Renata Redoglia, de 23 anos, também reforçou o potencial de avanço proporcionado pelo acontecimento desta semana. Bacharel em direito, a vice presidente da União da Juventude Socialista (UJS) em Maricá é membro do comitê municipal do PCdoB.
“O Maricá das Mulheres representa uma luta coletiva, uma luta que ultrapassa as fronteiras das eleições municipais. A construção coletiva das mulheres representa o nosso protagonismo e nossa luta por emancipação. A carta compromisso foi um ato e um gesto político de luta e resistência pelos direitos das mulheres, por uma Maricá das Mulheres!”, afirmou Renata.
Atos e participações
Compõem os instrumentos de fomentação do protagonismo feminino pelo ‘Maricá das Mulheres’: a formação e construção coletiva da estratégia do movimento, o ‘Agosto Lilás’, a elaboração da carta-compromisso, o plano de marketing com ações físicas e digitais, o evento de pré-lançamento com assinatura da carta (realizado nesta quinta), a caminhada ‘Outubro Rosa’ e o ‘Ato de Lançamento’, as ações em redes sociais e os debates.
O evento contou com a participação de candidatas de vários partidos, além da primeira-dama Rosana Horta e do candidato a vice-prefeito Diego Zeidan (PT).
Também estiveram representados os seguintes grupos sociais: União Brasileira de Mulheres (UBM), União da Juventude Socialista (UJS), Pela Ordem Primeiro Elas (POPE), Movimento Ativistas da Enfermagem Brasileira (MAE), Ação da Mulher Trabalhista, Nada Me Faz Parar, Movimento Negro PDT, Movimento Negro Unificado (MNU), Movimento Democrático Afro-Descendente pela Igualdade Racial (Movidade), Afroencantamento e Luz Negra.
“O Movimento 8M – Maricá das Mulheres é um avanço e uma conquista imensa para nós mulheres, que aceitamos o desafio de virmos candidatas. E, ser candidata, para uma mulher, principalmente uma mulher progressista, tem um significado diferente do que é ser para um homem: é um ato também de resistência, luta por direitos e por sobrevivência. Somos tantas mulheres em uma só, que às vezes nos esquecemos de sermos apenas mulheres e de cuidarmos de nós. É ser mãe, filha, esposa, companheira, amiga”, relata Rafaela Lima.
Rafaela enfatiza as responsabilidades diárias e os entraves da trajetória: “Somos responsáveis pela casa, pelas crianças, idosos, doentes, pelas coisas do companheiro(a), somos chefes de família, os arrimos daquele lar. Estamos em todos os espaços, mas não nos permitem ocuparmos e termos nossa fala, nossa representatividade nos espaços de poder e de tomadas de decisões. Na política também é assim. Os homens vão trabalhar dentro de um outro roteiro: acordam, tomam seu banho, café e saem. Nós mulheres ainda vamos fazer um monte de coisas: ver filhos, casa, almoço, etc. Na rua, ainda estamos preocupadas de como vão as coisas em casa. E, por muitas vezes, nos sentimos culpadas por estarmos correndo atrás dos sonhos ou levando o ‘pão de cada dia’ para casa, mas, devido a isso, deixando nosso filhos em casa”, destaca.
“O Maricá das Mulheres tem nos ajudado a compreender essa luta e a lidar com isso. É muito bom, não nos sentimos sós. O Movimento 8M-Maricá ainda mostrou o quanto conseguimos ser unidas, nós não somos adversárias e conseguimos unir mulheres de vários partidos. Qual movimento feito por homens temos parecido com o nosso? Foram muitas reuniões virtuais e até lágrimas trocamos, porque mulher é isso: é sentimento, é acolhedora, temos mais empatia, enxergamos mais o outro e o ouvimos melhor também. Mulher é afeto, e na política temos que ter afeto também”, finaliza.
Por sua vez, Luciene Mourão, de 46 anos, exaltou a criatividade do movimento o qual considerou ter sido “totalmente democrático” e “sem protagonismo”, que deu “espaço a todas de maneira equânime”. A advogada, que é presidente do instituto ‘Pela Ordem Primeiro Elas’ e ativista de vários coletivos feministas e antirracistas, inclusive a UBM, declarou que foi “uma experiência enriquecedora, que só tende a crescer”.
Leia a íntegra da carta:
“CARTA COMPROMISSO ASSUMIDA POR PRÉ-CANDIDATAS A VEREADORA DO MUNICÍPIO DE MARICÁ.
Nos termos do art. 5º da Constituição da República, todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, todavia as políticas públicas até agora implementadas não refletem o princípio da igualdade.
O enfrentamento do desafio constitucional de garantir a igualdade entre homens e mulheres passa necessariamente pela implementação de medidas urgentes que possam, não só consolidar os avanços alcançados, mas também levar à construção de um Projeto Municipal de Política para Mulheres capaz de tornar mais justa, sustentável e próspera a sociedade Maricaense. Para tanto, no curso dos seus mandatos, as futuras vereadoras devem empreender os esforços necessários para a superação dos seguintes desafios considerados prioritários pelo Coletivo 8M – Maricá das Mulheres:.
PONTO 1 – Defesa da ampliação dos mecanismos e equipamentos voltados para o atendimento à mulher vítima de violência.
PONTO 2 – Defesa de um projeto de educação inclusiva, não sexista, não racista, não homofóbica e não lesbofóbica;
PONTO 3 – Iniciativas legislativas para garantir a inserção da mulher no mercado de trabalho, observando-se as especificidades das mulheres que são mães de criança em idade escolar, bem como assegurar renda mínima da mulher que do lar;
PONTO 4 – Fiscalizar o cumprimento da lei 10639/03 e da Lei 11.645/2008 e suas alterações, ensino obrigatório da história e cultura afro brasileira e africana;
PONTO 5 – Defender a acessibilidade em todas as formas, notadamente, nos serviços e espaços públicos;
PONTO 6 – Propor e defender projeto legislativo visando garantir percentual de mulheres no Poder Legislativo e nos cargos de decisão do Poder Executivo;
PONTO 7 – Defender a preservação da incolumidade física e mental da mulher como política pública de saúde prioritária e defender a criação de uma maternidade em conjunto com um centro especializado ginecológico e oncológico voltado para a saúde da mulher;
PONTO 8 – Defender a reativação do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher e fiscalizar seu funcionamento e atuação;
PONTO 9 – Defender a isenção de tributação municipal de mulheres vítima de violência durante um exercício, passível de renovação por indicação do CEAM;
PONTO 10 – Defender e estimular a participação de mulheres na elaboração de políticas públicas.
A signatária da presente Carta Compromisso, representantes do setor progressista da cidade de Maricá, na qualidade de aspirante à função de Vereadora nas Eleições Municipais que ocorrerão em novembro de 2020, compromete-se em, uma vez eleita, reunir esforços para cumprir e fazer cumprir os termos aqui estabelecidos.
A signatária deve, ainda, estimular uma boa interlocução entre o Governo Municipal e a Sociedade Civil Organizada, notadamente, dos núcleos feministas que compõem o Coletivo 8M – Maricá das Mulheres, no sentido de aprimorar a democracia a partir do desenvolvimento baseado na participação social, na justiça social e na sustentabilidade ambiental.
Maricá, 08 de Outubro de 2020
Maricá das Mulheres”