“O Brasil se desindustrializou e o estado do Rio de Janeiro também. O País vive um impasse absurdo. Temos um presidente negacionista, então está tudo muito difícil”. A avaliação é de Mauro Osório. Bacharel em economia pela UFRJ, doutor em planejamento urbano e regional pela mesma instituição e professor da Faculdade Nacional de Direito, o atual diretor-presidente da Assessoria Fiscal da Alerj foi o convidado desta semana do programa “Rio no Debate“, da TV 65. Durante aproximadamente 1h de conversa, ele abordou temas como desemprego, pandemia, desindustrialização e a venda da Cedae.
O nó político presente no País e no RJ, para Osório, já começou a ser amarrado há quase seis décadas. Um acontecimento histórico que causou desmoronamento em todos os lados ideológicos.
“Se o Brasil hoje está com a lógica política complicada, o estado do Rio de Janeiro mais ainda. Quando houve o golpe de 1964, que algumas pessoas até homenageiam, tentando virar a história de cabeça para baixo, o estado que mais sofreu foi o Rio de Janeiro. Era onde ocorria ainda o debate nacional quando teve o golpe de 64, que acabou atingindo não só a esquerda, mas também a direita”, recordou.
Cinquenta e sete anos depois, o impeachment sobre Dilma Rousseff interrompeu um governo petista de quase uma década e meia. Na visão Osório, o prejuízo dessa conta arruinou muito além de uma legenda ou ideia de governo.
“O golpe parlamentar sobre a presidenta Dilma saiu muito caro para o País. Por mais que se diga que a Dilma tenha cometido erros em seu governo, o fato é que tinha uma situação, no início de 2015, de uma taxa de desemprego que nenhum economista de esquerda ou de direita previa recessão. Então, tivemos pautas-bombas lideradas pelo Eduardo Cunha (ex-presidente da Câmara dos Deputados), paralisação de investimentos pelas expectativas que geraram de que o País ia acabar… Tudo isso e também a queda do preço do barril do petróleo, a questão da Lava Jato, que, além de todas as arbitrariedades, não teve nenhuma preocupação de preservar empresas… O Rio de Janeiro, a partir de 2015, vive uma tempestade perfeita”, argumentou.
Desde março de 2020, um problema global arrasta imensa crise dupla pelo Brasil. A pandemia da Covid-19 ceifou vidas e tirou o emprego de parte da população. Nem o entrave sanitário nem o econômico passam perto de serem resolvidos. Já são quase 350 mil mortes decorrentes do novo coronavírus (Sars-CoV-2) e uma taxa de desemprego acima de 14%, o que representa 14,3 milhões de pessoas desocupadas. Osório destaca o trabalho feito em algumas regiões brasileiras na tentativa de minimizar os impactos pandêmicos, mas lembra que cabe ao governo federal tomar providências fora do alcance de estados e municípios.
“Quem tem mais capacidade de emissão é o governo federal, que pode emitir moeda, pode fazer dívida. A atuação estadual e municipal é limitada. Há municípios que têm preocupação com a questão social e que possuem mais recursos, como Maricá e Niterói, que têm tomado iniciativas locais muito consistentes. Mas, são situações particulares, além, é claro, de se ter a consciência do que deve ser feito. A gente vai precisar ir além dessas iniciativas das prefeituras. O governo do estado também tem que entrar forte nisso, e precisamos também cobrar do governo federal”, comentou.
Paralelamente às questões que envolvem a crise nacional, o Rio discute a possível venda das ações da Companhia Estadual de Águas e Esgoto (Cedae). Na quinta-feira (8), a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) adiou a votação do projeto de decreto legislativo que prevê a suspensão do leilão da estatal, previsto para o dia 30 de abril.
“Acho que a Cedae precisa sofrer muita modernização. Se a gente olha na Baixada Fluminense, as reclamações são muito grandes. Mas, acho que a questão é como é que a gente requalifica a Cedae. Pode ter até algum tipo de participação privada, mas o controle tem que ser público”, opinou Osório.
A entrevista completa com o professor Mauro Osório está disponível no canal da TV 65 no YouTube.