Tema discutido desde o começo da pandemia do coronavírus, o retorno das aulas presenciais ainda é cercado de incógnitas. Em participação nesta segunda-feira (17) no UOL Debate, o diretor da ENSP/Fiocruz (Escola Nacional de Saúde Pública da Fundação Oswaldo Cruz), Hermano Castro, declarou que a responsabilidade sobre retomada das atividades educacionais não podem ser das famílias. O Conselho Nacional de Educação, órgão ligado ao MEC (Ministério da Educação), recomendou, no fim de julho, que o controle de frequência dos estudantes seja flexibilizado e que os pais decidam se os alunos vão voltar.
“Não podemos transferir essa responsabilidade para a família. Cometemos esse erro no começo da pandemia. Não dá para transferir para a família. Esse não é o papel do estado. Não pode falar ‘leve quem quiser’. Essas famílias não têm condições de avaliar. Ela vai avaliar pela condição social. Então, não é uma decisão que seja fácil para ela. Isso é uma responsabilidade. Não pode transferir”, considerou Hermano, que evitou descartar a chance de uma segunda onda de contaminação da Covid-19 no País.
“Aqui pode ser que tenha. Nos Estados Unidos, que reabriu e pulou de 300 para 400 mil, aumentou em 40% a contaminação nas crianças. Crianças transmitem igual adulto. Tem que levar em consideração. Abrir prematuramente pode levar a novos surtos, e escola é um foco de contaminação. Esse controle é muito difícil. A escola não é uma redoma, mas quando ela entra ou sai, entra em outro mundo que é a realidade da cidade”, destacou.
Suely Menezes, do Conselho Nacional de Educação, entretanto, afirmou ser necessário haver um preparo no processo de conscientização dos estudantes para o retorno às salas de aula. Ela disse que “não haverá a possibilidade de caminhar sem a participação da família”.
“É um processo de confiança, de interação. O que eu penso é que essa relação, para a família decidir, precisa ter um pouco mais de investimento, que haja um compartilhamento de responsabilidade. Para poder voltar as aulas temos que ver aquelas três pontas. As escolas estão cumprindo o papel dela, mas com muita criatividade. Precisamos que esse processo seja valorizado. A família precisa preparar os seus alunos, tem que botar isso como um processo de consciência. Tem que dizer que o distanciamento tem que ser seguido, mas é temporário. Tem que dizer que a criança precisa participar da aula. Isso a família pode fazer”, salientou Suely.